O operador financeiro do esquema de compras de votos de deputados realizados pelo governo lulo-petista, Marcos Valério, está passando por um momento igual ao de um animal encurralado, arreganha os dentes contra o perigo, pode até morder, mas acho que vai ficar só na ameaça mesmo. Agora "o pagador", aliás, como todo culpado, entendeu que assumiu a culpa no lugar dos maiores, assim como a criança pequena sempre assume os erros dos maiores, o problema é que certamente vai ser condenado a não menos de 100 anos de prisão, assumirá tudo no lugar da quadrilha e perderá a liberdade, sua vida completamente. Como desculpa para sua atitude protetora do grupo mandante das operações mensaleiras e do general-camarada, disse que assumiu acreditando no abrandamento das suas penas, acreditou no poder absoluto do rei sem membro. Acontece que por mais que venha agora choramingar e dizer que tenha um vídeo gravado sobre todo o esquema, e que fez o que fez com medo de morrer ou o que fosse, ele assumiu outra culpa e das piores, achou mais uma vez que toda sua turma iria assim como no esquema de corrupção do mensalão, corromper a Justiça. É dar sorte para o azar em dobro, só nos resta não termos pena de nenhum quadrilheiro, ainda mais este que assumiu duplamente sua função de corruptor das nossas instituições democráticas e republicanas. Não podemos deixar que a culpa e a desculpa sejam banalizadas sempre protegendo o verdadeiro problema. O ministério público federal (MPF) precisa avaliar as denúncias deste participante da operação porque os idealizadores não podem ficar impunes. Esperamos ansiosamente que a cabeça do frankenstein da corrupção seja decepada assim como seu dedo mindinho, que seja feita uma assepsia no poder público brasileiro, que a justiça como um poder independente julgue desta forma e condene os culpados nas doses em que lhes caiba.
Comentário ao texto publicado na revista Veja edição 2287, 19 de setembro de 2012 (páginas 62-73)